domingo, 14 de outubro de 2007

A desalienação alienada


Foto: Wordpress.com

O estabelecimento do modus vivendi de uma sociedade indica de maneira óbvia o curso da mesma, bem como o curso estabelece o modus operandi. Mas, vez por outra, a sociedade se vê obrigada a modificar-se de forma estrutural, digo de forma estrutural, pois, mesmo diante de padrões comportamentais e operacionais, a engrenagem social é mutante em seus modi vivendi e operandi.


É razoável perguntar-se, então, qual a motivação para modificações estruturais quando as engrenagens se fazem mutantes. Questiono, então, o porquê dessas alterações comportamentais não serem eficientes no sentido de não pressionar a mesma sociedade a realizar grandes guinadas.


Inúmeros pontos poderiam ser levantados, mas o que gostaria de atentar é para a formação da ideologia da sociedade e sua ligação íntima com a velocidade das mudanças sociais, incitado pela presunção de que os rompantes sociais são frutos de reajustes na freqüência das reformas.


Uma sociedade que considera o estado atual como o estado a ser mantido está sempre sujeita a reacomodações político-sociais, pois a manutenção desse torna-se mais difícil do que sua evolução. No tocante à evolução planejada pelo estado centralizador, foi verificado que seu planejamento tornava-se mais complicado quanto maior se tornasse, ou um maior número de variáveis envolvidas (presumidamente inevitável quando o objetivo é evoluir).


O passo seguinte vem a ser a livre-iniciativa, uma forma de expandir o número de planejadores, os planejadores de seu próprio universo. Essa forma, a mais proeminente nos tempos atuais, mesmo assim passa a se defrontar com obstáculos fortes, principalmente daqueles que lutam pelo status quo, ou melhor, os preguiçosos sociais.


Freqüentemente os preguiçosos sociais apresentam-se como agentes que tentam retirar ganhos privados em detrimento do interesse público, ditos rent seekers. Tais obstaculadores do desenvolvimento forjam comportamentos audaciosos, desenvolvem um processo de fanatismo popular travestido de movimento ideológico, quando de fato não conseguem ultrapassar o limite menor da abstração.


O desenvolvimento de mecanismos de controle e supervisão da sociedade começa a operar, resultando no engessamento do seu se modo de vida e de operacionalização. Entretanto, esse controle e supervisão, ferindo a livre iniciativa, retardam as respostas aos problemas atuais.


Com o passar do tempo os problemas vão se agravando, a falácia da audácia é revelada e consigo todas as características do homem comum recai sobre o líder. Quando o líder se torna comum, a inveja permeia a sociedade e o recria no paganismo.


Nessa leitura, o verdadeiro líder nunca nasce, pois é fruto da própria sociedade e, se ao menos não fosse xenofóbica, teria sobre ela uma janela de oportunidade voltada ao mundo externo. Mas diante do ceticismo em procurar salvadores no espelho, o fenômeno de esperança e desesperança, da alienação desalienante, retarda a evolução e consolida a autofagia social e política.


Pensar política, para mim, é pensar em diretrizes consistentes para que a sociedade consiga corrigir suas falhas de forma rápida e segura sem que olhe para trás. Desviar-se desse objetivo faz as pessoas retrocederem ou engatinharem de forma alienada. Cujo processo consecutivo de desalienação gera mais desgosto e descrédito do que aprendizado.

Um comentário:

ANDRE FREITAS disse...

Amigo Felipe , quero parabenizá-lo pelos artigos que coloca a nossa disposição, buscando levar a nossa sociedade uma consciência política e humanística mais analítica e contestadora de todos os fatos que apequenam a mesma ....
Abraço André Freitas

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